segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

(Des)acordo ortográfico

Parece inevitável. Mesmo com o repúdio da maioria da população portuguesa, o famigerado Acordo Ortográfico (AO) vai mesmo avançar. A Lusa passou a aplicá-lo desde hoje, 1 de Fevereiro; o Expresso já assumiu que vai fazer o mesmo, bem como outro diário de que não me lembro agora o título. Com o tempo, mesmo aqueles mais renitentes acabarão por ceder à ditadura da maioria, uma vez que os fracos conhecimentos da língua-mãe da maioria dos jornalistas e a sua “dependência” - muitas vezes por incompetência, facilitismo e desleixo - da agência de notícias fará com que todas as defesas sejam rapidamente derrubadas e que a asneira se espalhe célere, como fogo em mato seco, e como tem acontecido até agora, mesmo antes deste execrável AO.
Senão reparem: já ninguém enuncia ou enumera, toda a gente elenca; já ninguém dá uma opinião ou uma pista, toda a gente dá dicas; Já ninguém melhora o desenvolvimento ou facilita, todos agilizam, mesmo que exista o verbo “agilitar”, bem português de Portugal desde há muitos séculos. E os exemplos poderiam continuar ad eternum, numa demonstração clara de que a nefasta influência brasileira continua muito mais forte que a vontade de falar e escrever correctamente ou o esforço de todos aqueles que não gostariam de ser colonizados, nem sequer através da língua.
O caso é tão grave, a cedência a estranhos interesses, que se não são apenas económicos pelo menos parecem-no, é tão chocante e afrontosa que os pretéritos e os presentes se acabarão por confundir, numa miscelânea de difícil entendimento em que guardar recato em discurso directo deixa de ter um sentido temporal, assim como qualquer outra acção (comparem com o que querem que passe a ser: ação!!!) que requeira um acento para se saber se o que aconteceu é presente ou se se situa algures em tempos anteriores.
E é precisamente assim que estamos, na dicotomia entre o agora e o antes, na (in)decisão de sermos e/ou estarmos presos na grave inconsciência de que isto não nos vai afectar (ou afetar?), mas que, acreditem ou não, provocará pelo menos uma clivagem geracional, entre aqueles que aprenderam a escrever português e aqueles que vão agora aprender um novo português…
Não me conformo e lutarei até ao limite das minhas capacidades para que isto não se confirme em definitivo. Assim, e por agora, vou para o Sol



Vamos ver os próximos capítulos...

Sem comentários:

Enviar um comentário