sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

História da carochinha.

Estava eu no meu cantinho... quando bateram à porta.

Embora não esperasse ninguém, fui ver. Quem sabe o que as surpresas nos reservam, nestes tempos de incerteza, pensei eu.

Pois é. Não devia ter pensado, voltei a pensar (ops!).

Em frente a mim estava um Ridículo Rastejante que balbuciava incompreensíveis palavras - talvez o estranho esgar, reflexo de um lábio repuxado que permitia a fuga de um ligeiro fio de baba que lhe escorria pelo queixo, tivesse alguma coisa a ver com isso, mas não tenho a certeza.

Como dizia, o entaramelado sem sentido que se escapava da boca daquele Piroso Paspalho parecia ter algum objectivo mas não o descortinei. Já tinha aturado pedintes, vendedores de enciclopédias, leitoras de mão e um sem-número de alcoólicos que, desconheço a razão, à minha porta vinham desaguar lamentosamente, como se eu fosse a razão de todos os seus males ou a solução dos seus inúmeros achaques. Mas este era diferente. Não muito. Mas diferente…

Cataloguei-o, no entanto, no mesmo arquivo de todos os anteriores. Uma gaveta que só raramente abria, principalmente quando me descuidava.

Assim, evitei a escorregadia baba que se espalhava pelo chão, lancei por cima do ombro um “não quero comprar nada”, e voltei para dentro, para o aconchego do meu cantinho.

Não sei qual o destino daquela espécie de ser. Pelo que sei, ainda se mantém à porta a gorgolejar incongruências, provavelmente à espera que alguém lhe dê troco, mas, como já disse, não quero comprar nada!



E se isto tiver a ver com a Lei das Finanças das Regiões Autónomas, poderá não ser uma simples coincidência...

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