As palavras são deliciosas. Em todos os sentidos. Degustamo-las lentamente, umas vezes, outras, somos mais ávidos no seu consumo, atropelando-as na garganta e no cérebro, mas sentindo todo o seu sabor, todo o seu peso calórico, toda a sua consistência.
Quando não são nossas, apropriamo-nos delas e muitas vezes esquecemos a sua origem, adoptando-as quase forçadamente, para que levem a nossa mensagem, mesmo que truncada sob texto alheio ou moldada nas ideias absorvidas por aí.
É certo que já alguém disse que tudo o que havia para escrever já está escrito, e que todos os de nós que se abrigam neste refúgio estão condenados ao trabalho de Sísifo, numa eterna procura da glória que nos dará o merecido descanso, mas que se revela praticamente impossível de alcançar.
Tudo isto por causa de um artigo sobre os bebés e as chuchas que me encontrou numa das revistas dos diários do fim-de-semana.
Um início de leitura renitente, quase contrariada pelo sentimento de estar a ser obrigado a chegar ao fim do parágrafo que me tinha chamado, transformou-se num regresso ao passado, não muito distante, em que a minha filha, então com dois anos, me confrontou com a decisão: papá, não quero mais a chucha! Crendo estar perante uma das muitas volatilidades que as várias fases de crescimento acumulam, respondi-lhe: o caixote do lixo está lá fora…
Os deditos polegar e indicador, rechonchudos mas decididos, arrancaram a dita dos lábios que a prendiam e, num passo decidido, abriu a porta, levantou a tampa do recipiente e atirou-a lá para dentro.
Há quatro anos que as palavras me fugiam e por fim encontrei-as. Agora estão presas. Como a chucha. Para sempre.
Era uma destas...
Um discurso insultuoso e vergonhoso
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*Por*
*Henrique Sampaio*
*Alegadamente para assinalar o Dia Mundial dos Pobres, a Cáritas Diocesana
do Funchal e o Secretariado Diocesano da Pastoral Soci...
Há 1 dia
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