Minhas senhoras e meus senhores,
comemoram-se hoje, oficialmente, os 590 anos da descoberta – ou do ‘achamento’, segundo alguns – da ilha da Madeira.
Para isso, não faltam efemérides em vários locais, com o pretenso desejo de envolver todos os madeirenses nestas comemorações.
Infelizmente, a época não está para festas; a pobreza e a miséria, causadas pela crise e pelo desemprego, que os governantes desta terra se recusam a ver e até se atrevem a desmentir, preocupam mais o Bloco de Esquerda-Madeira que a data histórica, que não passa disso mesmo, e a Autonomia, essa sim conquistada por todos os madeirenses e porto-santenses, e não apenas por alguns, como querem fazer crer aqueles que têm o poder que o povo lhes deu e que insistem em dividir a população da Região Autónoma da Madeira em cidadãos de 1.ª e de 2.ª.
Com esta conferência de imprensa, o Bloco de Esquerda presta uma singela homenagem a todas as mulheres e a todos os homens que ao longo destes quase seis séculos fizeram da Região aquilo que ela é hoje, e essas pessoas são todas as que sofreram e sofrem para a construção de uma sociedade melhor, que muitas vezes não soube nem sabe recompensar devidamente os que se sacrificaram e sacrificam por ela.
A elegia da Autonomia deveria ser feita, no nosso entender, num cenário de defesa dos trabalhadores – desempregados, com empregos instáveis, com salários de miséria – e de auxílio aos mais necessitados, que proliferam cada vez mais numa Região que alguns continuam a apelidar de rica, mas que teima em apresentar os piores indicadores de pobreza, fome, miséria, exclusão social, do país e da Europa dos 27, a União Europeia.
É contra a hipocrisia dos festejos que o Bloco de Esquerda se manifesta e onde recusa colaborar. Se a Democracia está doente no país, na Região está gravemente enferma, com os sucessivos ataques aos direitos da oposição lançados pelo Governo Regional, que não respeita nada nem ninguém para atingir os seus intentos de mandar em tudo e em todos.
Não pactuamos com comemorações onde sempre os mesmos fazem a festa, lançam os foguetes, apanham as canas e batem as palmas, enquanto esperam que à sua volta a subserviência silenciosa lhes apare os golpes.
Dizemos não ao envio de secretários regionais à África do Sul, à Venezuela e ao Canadá, numa ostentação de falso riquismo, que deveria envergonhar – e certamente envergonha – muitas das pessoas boas desta Região, que se preocupam com quem passa necessidades, com quem lança um silencioso pedido de ajuda, com todos os que se vêem obrigados a empenhar os seus bens, até os mais humildes, para terem mais uma refeição na mesa, nem que seja a única do dia, para conseguirem comprar aquele medicamento de que mais precisam, que para todos não há dinheiro que chegue, para aliviarem a fome que as crianças levam para escola, e que será delas quando as aulas acabarem?…
É contra este estado de coisas que o Bloco de Esquerda está, e é contra estas incongruências que continuará a lutar na Assembleia Legislativa da Madeira, na Assembleia da República, nas autarquias, na rua junto da população, em todos os lugares onde a nossa voz chegue e se faça ouvir, com todos os poderes que nos forem dados pelos eleitores, pois é deles a capacidade de iniciar a mudança e a perspectiva da criação de um futuro melhor, assim saibam assumir as suas responsabilidades e manifestar o seu descontentamento na altura devida: nas eleições que se avizinham.
As dificuldades que se prevêem para os próximos tempos não são uma fatalidade a que não podemos fugir. É possível mudar. Do mesmo modo que a Autonomia não é propriedade de alguns, o poder dos mesmos, que já se viu não conseguirem resolver as situações complicadas com que se deparam, não tem de ser eterno.
Assim os madeirenses e os porto-santenses o desejem, assim o exijam, assim se libertem das amarras com que estão condicionados e que lhes tolhem a vontade, preferindo deixar de participar democraticamente nas escolhas que devem e têm de ser feitas, delegando em apenas alguns a construção do futuro de todos nós.
Nenhum cidadão se deve alhear da decisão sobre o que quer para o seu futuro. Não participar é abdicar dos seus direitos. Se, durante quase meio século, homens e mulheres lutaram e sofreram as consequências do seu combate pela reposição do mais elementar direito de cidadania, que é o voto, não é justo para eles que quem vive em liberdade ignore essa batalha pela qual muitos perderam a vida e tantos outros sofreram a ignomínia de terem de abandonar o seu país.
Não exijam da Democracia aquilo que alguns Homens não querem dar!
Funchal, 1 de Julho de 2009
Autonomia, liberdade e democracia!
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