Nos abrigos que acolhem alguns dos 500 mil que perderam a casa começa a faltar água e alimentos. Em muitos não há aquecimento porque a energia eléctrica era garantida pelas centrais que o sismo de sexta-feira, de 9 na escala de Richter, danificou, e por isso estão agora sem funcionar.
O país começou a racionar a electricidade e para milhões de japoneses isso não ajuda a qualquer tentativa de regresso à normalidade. As ordens de contenção são para aplicar nas próximas semanas, porque o Japão tem poucos recursos naturais e estava muito dependente da energia nuclear. Mas dos 54 reactores do país, 11 estão fechados desde o sismo, refere a BBC. “Foi uma decisão difícil de tomar, sabendo que causará um grande inconveniente para a população. Por favor, sejam criativos na forma como se protegem deste blackout”, afirmara o primeiro-ministro, Naoto Kan, no domingo.
Centenas de milhares de pessoas participam nas operações de resgate e de emergência. Mas muitas vítimas estão ainda em telhados ou planos elevados à espera de auxílio, escreveu o jornal Yomiuri. O diário adianta que as equipas de salvação (há mais de 1100 espalhadas pela região) têm dificuldade em aceder a muitos locais – estradas, aeroportos e pontes estão parcial ou totalmente danificados. Alguns casos estão a ser resolvidos por helicópteros enviados pelas forças militares japonesas, outros por barcos.
O oposto do Haiti ou Katrina
Para remover os destroços, o Governo pediu a colaboração de 217 empresas de construção; em algumas zonas a operação já arrancou. Oficialmente, as autoridades continuam sem conhecer o paradeiro de 15 mil pessoas. Mas um estudo realizado pela agência Kyodo duplica o número de desaparecidos. O balanço de mortos ronda ainda os três mil, mas vários responsáveis locais continuam a falar em dez mil.
O Japão recebeu ofertas de ajuda de 102 países, aceitou a de 15 (incluindo da China), e de 14 organizações internacionais, depois de uma avaliação das necessidades, que são sobretudo de equipas de buscas e salvação, e médicas, de acordo com a Reuters.
As descrições da forma como o país está a lidar com a sua pior catástrofe desde a II Guerra Mundial (o terramoto de Kobe deixou rapidamente de ser usado como referência) contrastam com aquelas que foram feitas depois do sismo no Haiti ou do furacão Katrina. O combate ao caos está a ser feito de forma ordeira. Não há notícias de pilhagens ou violência. Pelo contrário, supermercados que continuam de portas abertas estão a reduzir os preços, proprietários de máquinas de bebidas estão a distribui-las gratuitamente. Sem revolta, espera-se horas em filas para ter o que comer.
Um repórter do "Washington Post" apontava para a boa educação inabalável dos japoneses. Referia ainda que os sem-abrigo partilham taças de arroz, as viagens de carro de dez horas, rumo ao Norte, fazem-se sem buzinadelas. Mesmo em Sendai, a cidade mais abalada pelo terramoto, o caos não tem mão humana. Recuperou parcialmente os fornecimentos eléctricos, mas continua sem água, pelo quarto dia, escreve o El País.
Alguns supermercados recebem clientes de forma racionada, não se entra sem que alguém saia, e ninguém força a entrada. Há filas para tudo. Filas para comer, pôr gasolina, comprar água, recarregar o telemóvel. Filas que ninguém fura. No meio deste caos inédito, a ordem de sempre.
A calma pode, no entanto, esconder muita coisa. Entre as várias ajudas que se pode dar ao Japão, a terceira economia mundial, uma será particularmente necessária: “Aconselhamento pós-trauma.” Patrick Fuller, da Cruz Vermelha Internacional, afirmou que a ajuda do exterior deve servir para benefícios de longa duração. “As pessoas sofreram tanto, perderam as suas casas, perderam a sua família, por isso um dos focos para nós será poder dar aconselhamento pós-trauma”, afirmou numa entrevista à BBC. “Eles vão precisar de financiamento para ajudar a porem-se de pé novamente, para reconstruírem as suas casas.”A população mais idosa é particularmente vulnerável. Como Hirosato Wako, o pescador de 75 anos que compara ao cenário catastrófico que tem pela frente, na sua aldeia perto de Sendai, aos bombardeamentos dos aliados na II Guerra. “Sobrevivi aos raides aéreos a Sendai. Mas isto é muito pior”, comentou ao New York Times. Para muitos da sua idade, este é também um regresso ao passado de privação que a prosperidade pós-guerra tinha passado para trás
in Público
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Há 1 dia
Bom apontamento.
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